PROFECIA CONTRA OS NOCTÂMBULOS ESPIRIUTAIS (CONTO)



Gênero Literário: CONTO
Autor: THALYSSON DE MOURA
“Desperta, ó tu que dormes, levanta-te de entre os mortos, e Cristo te iluminará” (Ef.5:14).

I
Emanuel era crente fiel a Deus, estudioso dedicado das Sagradas Escrituras, orava pelo menos três horas todos os dias, duas ao acordar e uma antes de dormir, dedicava-se ao Senhor de corpo e alma, porém era dislálico e muito tímido, não ousava abrir a boca para anunciar o Evangelho, pregava apenas com seu testemunho de vida e isso o inquietava muito a ponto de sentir amargura na alma ao lembrar-se do versículo: “Mas, quanto aos tímidos (covardes) [...] a sua parte será no lago que arde com fogo e enxofre, o que é a segunda morte” (Ap.21:8).
 Certa noite, no culto de sua humilde congregação, o Pregador aponta para Emanuel e envia-lhe uma mensagem de Deus:
Servo meu, tens sido fiel a mim em todo tempo, por isso te mostrarei coisas que não são lícitas à visão de homem algum. Doze dias verás os homens, não como os vês agora, verás como Eu vejo, vislumbrarás o interior de suas almas e perscrutarás seu âmago. Depois dos doze dias proferirás as Palavras que anunciarei à Igreja do Século XXI.
Enquanto isso, Emanuel, estupefato, pensa consigo mesmo: Esse homem deve estar enganado, como poderia Deus usar um dislálico para anunciar Sua Palavra, alguém que não sabe falar e que não ousa nem levantar a mão ou a cabeça de tanta timidez?!
O pregador continua:
- Eu fiz a boca do homem, Emanuel, Eu faço seu corpo, sua alma e o seu espírito. Eu dou a vida a quem quero e a tiro e quando Eu opero não há quem se oponha. Como sinal de que Quem te chamou é Fiel e Verdadeiro, antes dos doze dias, ficarás cego por três dias não vendo luz alguma, não escutarás nada e perderás o dom da fala. Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às Igrejas.
Emanuel, muito aturdido, mas não mais que a Igreja, foi levado, por seu pai, para sua casa e lá ficou até que recuperasse a visão, a audição e a fala.
Quando seus olhos se abriram, viu em seu pai um aspecto mui terrível e cadavérico, assustado começou a gritar causando sério alvoroço e muitos dos que se ajuntaram ali tinham aparências piores do que a do pai e um cheiro terrível de podridão. Emanuel ficou em estado de choque, convulsionando-se de forma difusa e suando copiosamente. Preferiu recolher-se ao seu quarto e ali passou sete dias trancado com medo dos terríveis aspectos que passara a enxergar naqueles por quem tanto tinha apreço e amor. Por três dias não comeu nem bebeu, apenas refletia angustiado sobre o que estava acontecendo. No quarto dia conseguiu comer um pouco de pão e beber água, mas só teve coragem de sair do quarto após os sete dias de confinamento. Então conseguiu perceber que aquilo era o cumprimento do que tinha sido anunciado pelo Pregador em sua paróquia e que as fisionomias terríveis que vira nas pessoas nada mais eram do que o reflexo de suas próprias almas em decomposição espiritual.
Tendo já aprendido a tolerar o mau cheiro e as figuras humanas que mais pareciam leprosos degradados ou cadáveres que andavam como zumbis de filmes de terror, percebeu que, no meio da Igreja, algumas pessoas tinham rostos que brilhavam e agradáveis fragrâncias de rosas que mais pareciam cheiro de jardim em plena alvorada de uma primavera e esse aroma alegrou muito a Emanuel que, jubiloso, glorificou ao Senhor por ainda haverem crentes fiéis na Igreja de Cristo.

II

Nas Igrejas da cidade e do país não se falava em outra coisa senão num tal de Emanuel que havia ficado cego, surdo e mudo depois de receber uma profecia em uma pequena congregação e que lhe fora incumbida a missão de dar um importante recado, da parte do SENHOR, à Igreja do Século XXI.
Passaram-se os doze dias, chegara a hora, Emanuel foi convidado pelo pastor presidente da Igreja do Brasil para proferir seu testemunho e pregar no maior templo do país com transmissão ao vivo em rede nacional.
O templo estava tão atulhado que muitos não conseguiram entrar, aglomerou-se uma grande multidão do lado de fora tentado assistir à pregação. Emanuel começou sua homilia, ao contrário do que estavam esperando os organizadores do evento, falando da hipocrisia generalizada no meio da Igreja de Cristo e dos sepulcros caiados, embasando-se no texto de (Mt.23), e prosseguiu falando sobre o despertar do sono da morte espiritual (Ef.5:14). Enfim chegou o momento para o qual Deus o chamara. Emanuel para e, em transe, profere as seguintes palavras:
- Este é o Oráculo do Senhor contra os Noctâmbulos.
Oráculo do Profeta acerca dos noctívagos:
Dormis um sono mui profundo e do ventre do inferno escuto o suco gástrico do Geena carcomer os vossos cadáveres.
Mortos-vivos, cujas frias carnes são roídas por famintos vermes. Vossos corpos apodrecem lentamente e vos desesperais com a podridão das próprias pústulas, até os vossos ossos foram tomados pelo célere apodrecimento e vossos miasmas chegaram às Minhas narinas, não permitirei que comais da Árvore da Vida, mas que morrais a Segunda Morte no fogo eterno do Geena.
Arrependei-vos!
Pois andais como se tivésseis em vigília, mas dormis; caminhais, mas como leprosos que deixam no itinerário os seus pedaços, vós deixais rastro de cadaverina do qual se desviam os justos, pois não aguentam o insuportável cheiro da vossa putrescina.
Arrependei-vos!
Despertai, ó vós que dormis, e levantai-vos de entre os mortos.
Fostes chamados a exalar o bom e agradável perfume de Cristo, porém não quisestes, preferistes tresandar o cheiro de morte e atraídas por ele as aves do céu virão e devorarão vossa carniça em praça pública e os gentios temerão e tremerão ao vislumbrarem o terrível fim de um tartufo.

Ao escutar tão duras palavras, o corpo de presentes da Igreja entrou em desespero, se seguravam nos bancos com todas as forças temendo que o chão se abrisse e eles fossem tragados pelo solo, vendo-se mergulhados no fogo ardente do próprio inferno.
Continuou o profeta Emanuel:
- E para que saibais que quem fala é o SENHOR vosso Deus, levarei nesta noite, de todos os que estão presentes neste recinto, os que foram leais a mim e aos meus estatutos. Levarei somente os fiéis e deixarei os cadáveres para que tenham uma segunda chance. Arrependei-vos dos vossos pecados e vivais, assim diz o SENHOR.
Emanuel aponta para alguém da multidão e diz:
- Hoje estarás comigo, servo meu, pois andaste ao meu lado e não mais existirás, o tomarei para mim.
Então caiu um homem, no meio da multidão, e um médico que estava ao seu lado, pensando que passara mal, procurou seu pulso e não o encontrou. Estava morto.
- Deixarei vivos, hoje, apenas os cadáveres errantes. Trarei somente os meus fiéis para junto de mim, diz o SENHOR.
Emanuel dirige-se outra vez a algumas pessoas e diz:
- Vós fostes meus amigos e me amáreis, estais fatigados deste mundo torpe, encontrar-se-ão comigo hoje no paraíso e a fragrância de vossos testemunhos será como aroma de vida para os fiéis e cheiro de morte para os desobedientes. Eu vos chamo hoje para vos apartardes desse mundo e viverdes eternamente ao meu lado.
Nesse momento caem mortos três jovens, dois obreiros e três irmãs do círculo de oração. E por fim cai morto também o profeta Emanuel ao proferir as palavras:

- Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às Igrejas.

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